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Café com Pesquisa – Entrevista com o prof. Pedro Luiz Teixeira de Camargo
Nesta edição da série Café com Pesquisa - Entrevistas, vamos conhecer a trajetória do professor Pedro Luiz Teixeira de Camargo, que é pós-doutorando em Ciência Naturais, Doutor em Ciências Naturais e Mestre em Sustentabilidade pela UFOP. Possui especialização em Gestão Ambiental, Práticas de Ensino em Geografia, Gestão Pública e em Planejamento e Gestão da Educação a Distância (UFF-RJ); MBA em Administração e Gestão de Instituições de Educação e Graduação em Geografia, História, Pedagogia, Sociologia e Ciências Biológicas (UFOP-MG).
É professor efetivo do IFMG com atuação em cursos técnicos integrados, de graduação e pós-graduação, orientando alunos nos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu de Sustentabilidade do Campus Bambuí e no Ensino de Geografia do Campus Ouro Preto.
Integra a direção da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (ECOECO) desde 2017 e é Secretário Regional da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) em Minas Gerais (2021-2025). Atualmente, coordena o Grupo de Pesquisa em Ciências Ambientais, Econômicas e Sustentabilidade e atua no Observatório do Ensino de Geografia do Quadrilátero Ferrífero (MG), ambos com sede no IFMG. Participa como colaborador do Grupo de Estudos em Infraestrutura Produtiva e Logística para o Desenvolvimento Local Sustentável com sede na UPE e do Núcleo de Estudos em Sustentabilidade e Gestão Ambiental (NESGA), com sede na UNIFESSPA.
Tem interesse em Geociências Agrárias e Ambientais com destaque para Economia Ecológica e Ambiental com ênfase em Valoração de Recursos Naturais; Pagamentos por Serviços Ambientais; Manejo Florístico e Reflorestamento; Biogeodiversidade; Sensoriamento Remoto; Ensino à Distância; Gestão e Educação Ambiental.
Uma boa conversa combina com café. Pegue sua xícara e conheça a trajetória de Pedro Camargo na pesquisa!
Em que momento a pesquisa passou a fazer parte da sua vida acadêmica e profissional?
A pesquisa começou a fazer parte da minha vida acadêmica já na pós-graduação, uma vez que eu não pude fazer iniciação científica, pois eu trabalhava durante o dia como carteiro e estudava à noite. Durante o mestrado e o doutorado é que pude me aprofundar nas investigações sobre sustentabilidade, território e políticas públicas. Hoje, como docente do IFMG, a pesquisa é parte central da minha prática profissional: ela orienta minhas ações em sala de aula, direciona meus projetos de pesquisa e extensão e alimenta minha participação em grupos de pesquisa que buscam compreender os desafios do desenvolvimento sustentável em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.
Poderia citar alguns dos projetos de pesquisa, concluídos ou em andamento, que você desenvolve no IFMG – Campus Ouro Preto?
No IFMG, tenho desenvolvido pesquisas que vão desde a educação ambiental, passando pela sustentabilidade e até inovação tecnológica, sempre buscando formas de contribuir com a transformação social numa perspectiva ecologicamente equilibrada.
Entre os projetos em andamento, destaco “Sustentabilidade e Educação Ambiental na EJA: uma avaliação do conceito de biodiversidade segundo alunos da rede básica”, que busca compreender as percepções de estudantes da Educação de Jovens e Adultos sobre biodiversidade e sustentabilidade. A pesquisa utiliza mapas conceituais e atividades participativas para estimular a reflexão ecológica e o protagonismo discente na construção do conhecimento ambiental.
Outro trabalho que destaco é o projeto “Cálculo do valor ambiental do Ribeirão do Carmo, no município de Mariana (MG)”, que aplica a Metodologia de Valoração Contingente (MVC) para estimar o valor econômico atribuído pela comunidade periférica do entorno à conservação desse recurso hídrico. O estudo contribui para o debate sobre políticas públicas e instrumentos econômicos de gestão ambiental.
Destaco também a pesquisa “Controle biológico e estrutural de pragas na cultura do café: estudos sobre a broca-do-café (Hypothenemus hampei)”, voltada ao desenvolvimento de métodos de manejo sustentável desta espécie de besouro que devora os pés de café.
Outro marco importante foi o desenvolvimento e o pedido de registro da patente do “Ventilador pulmonar mecânico de baixo custo”, concebido durante a pandemia de COVID-19. O projeto, fruto de uma colaboração interdisciplinar entre docentes, discentes e entidades sindicais, resultou na publicação do livro “Como criar um ventilador pulmonar mecânico de baixo custo”, que explica como construir este equipamento de maneira simples e barata. Essa iniciativa representou não apenas um avanço tecnológico, mas também uma ação de solidariedade e responsabilidade social no contexto emergencial da saúde pública.
Há algum projeto ou resultado de pesquisa do qual se orgulhe especialmente?
Entre os diversos projetos que desenvolvi ao longo da minha trajetória no IFMG, há um em especial do qual me orgulho profundamente: o que resultou na criação de um pedido de patente do ventilador pulmonar mecânico de baixo custo, iniciativa que nasceu durante a pandemia de COVID-19. Em um contexto de emergência sanitária e escassez de equipamentos hospitalares, a proposta mobilizou bastante gente em torno de um objetivo comum: produzir uma solução acessível, funcional e socialmente relevante.
Que parcerias ou colaborações têm sido importantes no seu trabalho?
No âmbito interno, destaco a colaboração constante com colegas docentes e técnicos do próprio IFMG. Essas parcerias têm possibilitado o desenvolvimento de projetos interdisciplinares, como os estudos sobre educação ambiental e sustentabilidade na EJA.
Também têm sido fundamentais as colaborações com outras instituições públicas de ensino e pesquisa, bem como prefeituras e mandatos legislativos de origem popular. Cabe destacar ainda as parcerias com a SECADI/MEC, com o MCTI e a FINEP nas áreas educacionais e de inovação tecnológica.
Mais recentemente, destaco ainda as parcerias internacionais em construção, voltadas à cooperação acadêmica e científica com instituições de Cuba e da China, especialmente nas áreas de sustentabilidade, gestão ambiental e formação tecnológica.
"A pesquisa, em meu entendimento, deve ser vista não apenas como uma atividade técnica, mas como um instrumento de transformação social, voltado à sustentabilidade, à justiça social e à inovação para a melhora de vida do nosso povo." -- Pedro Camargo
Quais são, na sua opinião, os maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores brasileiros?
Na minha avaliação, os maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores brasileiros estão relacionados à valorização, ao financiamento e às condições estruturais da pesquisa científica no país. Apesar do reconhecimento da importância da ciência para o desenvolvimento nacional, ainda enfrentamos uma instabilidade crônica nos investimentos, o que compromete a continuidade dos projetos, a formação de novos pesquisadores e a consolidação de grupos de pesquisa nas instituições públicas.
Outro desafio diz respeito à burocratização e à lentidão dos processos institucionais, que muitas vezes dificultam a execução de projetos, a aquisição de materiais e o repasse de recursos. Essa questão se torna ainda mais sensível quando pensamos na pesquisa aplicada e tecnológica, que exige agilidade e integração entre setores públicos e produtivos.
Há também um obstáculo de natureza simbólica e cultural: a falta de valorização social do pesquisador. A ciência brasileira, especialmente a que se faz nas universidades e nos institutos federais, ainda é pouco compreendida pela sociedade como um bem público essencial. Falta comunicação científica e políticas de aproximação entre a academia e a população, de modo a demonstrar o impacto concreto das pesquisas sobre a vida cotidiana e o desenvolvimento sustentável.
Por fim, destaco o desafio de garantir a formação integral e crítica dos novos pesquisadores, capazes de unir rigor científico e compromisso com a sociedade. A pesquisa, em meu entendimento, deve ser vista não apenas como uma atividade técnica, mas como um instrumento de transformação social, voltado à sustentabilidade, à justiça social e à inovação para a melhora de vida do nosso povo.
Que conselho você daria para estudantes que desejam seguir carreira acadêmica e de pesquisa?
Aos estudantes que desejam seguir a carreira acadêmica e de pesquisa, costumo dizer que a curiosidade é o ponto de partida, mas a persistência é o que sustenta o caminho. Fazer pesquisa é dedicar-se a compreender o mundo em profundidade, com método, rigor e, sobretudo, compromisso com o povo. É um percurso exigente, que envolve estudo contínuo, paciência diante das dificuldades e abertura para o diálogo com diferentes áreas do conhecimento.
Meu principal conselho é que vejam a pesquisa não apenas como um conjunto de técnicas, mas como um modo de pensar e de agir sobre a realidade. A ciência tem um papel transformador, e o pesquisador deve estar atento às necessidades da sociedade, às questões ambientais e às desigualdades que marcam o nosso país. É nessa relação entre conhecimento e responsabilidade que a pesquisa ganha sentido. Afinal de contas a Ciência não tem lado, mas o cientista tem!
Recomendo também que busquem a interdisciplinaridade e o trabalho coletivo. A produção científica é sempre resultado de colaboração — com colegas, orientadores, comunidades e instituições. Saber ouvir, compartilhar e construir em conjunto é tão importante quanto dominar conceitos e métodos. Ou seja: a paciência é o exercício diário a ser exercido!
Por fim, diria que a carreira acadêmica exige foco e propósito. Os desafios são muitos — desde a escassez de recursos até o reconhecimento social do pesquisador —, mas o retorno é incomparável. Fazer ciência no Brasil é um ato de resistência e esperança: é acreditar que o conhecimento pode ser uma ferramenta efetiva de transformação social!
