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Café com Pesquisa – Entrevista com o professor André Monteiro Klen
Nesta edição da série Café com Pesquisa – Entrevistas, conversamos com o professor André Monteiro Klen, que leciona nos cursos de Tecnologia em Gestão da Qualidade e de pós-graduação em Inteligência Artificial do IFMG – Campus Ouro Preto. Sua trajetória acadêmica inclui um pós-doutorado em Georesources pela Universidade de Bologna (Itália) e três formações pela Universidade Federal de Ouro Preto: doutorado em Geotecnia Aplicada à Mineração, mestrado em Engenharia Mineral com ênfase em lavra a céu aberto e graduação em Engenharia de Produção.
Suas pesquisas concentram-se em geotecnia, geoestatística e aplicação de sensoriamento remoto para exploração mineral, com destaque para a integração de Machine Learning, Inteligência Artificial e estatística multivariada, voltada a tornar os processos de exploração mais eficientes e precisos.
Uma boa conversa combina com café. Pegue sua xícara e conheça a trajetória de André Klen na pesquisa!
Em que momento a pesquisa passou a fazer parte da sua vida acadêmica e profissional?
A pesquisa começou a fazer parte da minha vida acadêmica e profissional durante a graduação. Infelizmente, não tive a oportunidade de participar de projetos de iniciação científica, principalmente devido à limitação de recursos e ao número restrito de bolsas disponíveis. Esse é um ponto que merece maior atenção dentro das universidades e institutos, já que muitas vezes se fala em incentivar a pesquisa, mas na prática, o acesso é restrito a poucos estudantes. Apesar disso, meu contato com a pesquisa se deu por meio das disciplinas, da elaboração de trabalhos acadêmicos, da escrita de artigos e, sobretudo, durante a elaboração da dissertação e tese de doutorado.
Poderia citar alguns dos projetos de pesquisa, concluídos ou em andamento, que você desenvolve no IFMG – Campus Ouro Preto?
Já desenvolvi diversos projetos de pesquisa no IFMG – Campus Ouro Preto, muitos deles com apoio financeiro da Reitoria ou do próprio campus. Entre esses, destaco um que considero um dos mais relevantes: o desenvolvimento de um algoritmo para identificar famílias de fraturas em maciços rochosos. Esse projeto contou com a participação de bolsistas tanto do IFMG quanto da UFOP e foi fundamental para que eu realizasse meu pós-doutorado na Universidade de Bolonha, na Itália. A partir dessa colaboração internacional, a pesquisa evoluiu, ganhou maior robustez e resultou em um algoritmo funcional, já publicado em artigos internacionais e atualmente utilizado tanto em instituições de ensino quanto pela indústria.
Entre os projetos em andamento, destaco um que integra imagens de satélite com técnicas de aprendizagem de máquina aplicadas à exploração mineral. Nesse trabalho, utilizamos dados da composição química e mineralógica das barragens de rejeito da mineração, especialmente do beneficiamento de bauxita, para treinar os modelos de aprendizado. A partir disso, os algoritmos conseguem identificar em imagens de satélite potenciais áreas de ocorrência de alumínio ou ferro, ajudando na prospecção de novas jazidas. É um projeto de que me orgulho bastante, por seu caráter inovador e pelo grande potencial de aplicação prática na mineração e no monitoramento ambiental.
Alguns trabalhos relacionados às pesquisas do docente podem ser acessados a seguir:
- FFKM: A Software for Automatic Discontinuity Set Identification and Stereographic Projection Analysis
- A fuzzy K-Means algorithm based on Fisher distribution for the identification of rock discontinuity sets
- A Set of Ground Penetrating Radar Measures from Quarries
- Algoritmo para agrupamento automático de descontinuidades baseado no método Fuzzy K-means
Há algum projeto ou resultado de pesquisa do qual se orgulhe especialmente?
Um dos projetos de que mais me orgulho foi financiado pelo IFMG – Campus Ouro Preto e esteve relacionado ao desenvolvimento de um algoritmo para identificar famílias de fraturas em maciços rochosos. Ele foi realizado durante a pandemia, o que trouxe um desafio particular: todo o trabalho com o bolsista aconteceu de forma online, sem nenhum contato presencial. Somente após o fim da pandemia tivemos a oportunidade de nos encontrar pessoalmente. Esse projeto me marcou não apenas pelos resultados técnicos, mas pelo vínculo humano que se criou. A relação de orientação evoluiu para uma amizade sólida, que permanece até hoje e influenciou diretamente a trajetória acadêmica do aluno, desde a monografia até o mestrado. Para mim, esse é o verdadeiro valor da pesquisa: transformar vidas e construir relações que vão além da ciência.
Que parcerias ou colaborações têm sido importantes no seu trabalho?
As colaborações mais importantes para o desenvolvimento do meu trabalho acontecem dentro do próprio IFMG – Campus Ouro Preto. Conto com o apoio dos colegas professores, dos departamentos e dos servidores técnicos, que são fundamentais em etapas como o cadastramento e o pagamento de bolsistas. Sem esse suporte institucional, seria inviável a execução de qualquer projeto de pesquisa. Por isso, considero que a parceria construída no dia a dia com toda a equipe do campus é a base que torna possível avançar nas investigações e alcançar resultados.
Quais são, na sua opinião, os maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores brasileiros?
Na minha opinião, os maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores brasileiros estão em dois pontos principais. O primeiro é a falta de recursos financeiros: o número de bolsas é muito limitado, e muitas vezes não há verba suficiente para aquisição de computadores, insumos ou para a estruturação e reestruturação de laboratórios, o que compromete o avanço das pesquisas. O segundo desafio está relacionado à sobrecarga de trabalho dos professores-pesquisadores, que precisam dividir seu tempo entre muitas aulas, encargos administrativos e a pesquisa. Esse desequilíbrio dificulta a dedicação necessária para o desenvolvimento científico. Superar esses dois obstáculos seria fundamental para que a pesquisa no Brasil tivesse um progresso mais consistente e competitivo.
Que conselho você daria para estudantes que desejam seguir carreira acadêmica e de pesquisa?
Meu conselho para os estudantes que desejam seguir a carreira acadêmica e de pesquisa é, primeiro, dedicar-se ao aprendizado da língua inglesa. O inglês é o idioma no qual o conhecimento científico é majoritariamente produzido e difundido. Em segundo lugar, é fundamental aprender programação de computadores e análise de dados, utilizando linguagens como Python ou R, que são ferramentas essenciais para a pesquisa moderna. Outro ponto é publicar: escrever e submeter artigos científicos desde a graduação até o doutorado. Isso não só fortalece a formação, como também aumenta as chances em concursos e oportunidades acadêmicas. Em resumo: estudar inglês, dominar programação e buscar sempre publicar são passos estratégicos para quem quer se consolidar na pesquisa.
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