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Distribuição de kits de alimentos reforça a importância da agricultura familiar

publicado: 12/03/2021 17h08, última modificação: 15/03/2021 13h47

O IFMG - Campus Ouro Preto está realizando, desde o final do mês de fevereiro, a distribuição de 590 kits de alimentos destinados aos estudantes matriculados nos cursos técnicos integrados e subsequentes e de graduação. A medida acontece no âmbito da implementação de recursos providos pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, e acompanha os esforços do Campus no enfrentamento à COVID-19 e suas implicações, inclusive alimentares. A ação é uma via de mão dupla, uma vez que assiste aos discentes, fornecendo itens derivados de fontes sustentáveis e com qualidade nutricional, e garante, ainda, renda aos agricultores familiares, - produtores dos alimentos que recheiam a cesta - estimulando, consequentemente, a economia local.

A valorização do cultivo domiciliar e a qualidade dos alimentos integram alguns dos objetivos do PNAE. O gerente de Estratégia Institucional e responsável pela implantação do Programa no Campus, Cláudio Aguiar Vita, estima que foram injetados R$ 300 mil na compra de alimentos, sendo, a maioria, provenientes da Cooperativa dos Agricultores Rurais, Familiares e Amigos de Goiabeira e Região, a COOPARAM, de Mariana; e da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Ouro Preto e Região, a COOPAFOR, do distrito de Santa Rita de Ouro Preto. Ao todo, 60 famílias se encarregaram de gerar os produtos para os kits.

Produtos caseiros, verduras, legumes e frutas integram a lista: bolo, doces de leite e de banana, repolho, queijo minas frescal, bananas prata e caturra, ovos, biscoito de polvilho, broinhas de queijo, bolinho de laranja, frasco de mel, rosquinhas de nata, pão de cebola e rosca fofa. As cestas também contam com itens básicos como  arroz, feijão, óleo de soja, macarrão, sal, café, leite em pó, fubá e molho de tomate. 

Respeitando o Protocolo de Biossegurança, os alunos que compareceram ao campus para a retirada dos kits aprovaram a ação. Mariana Oliveira e Pedro Ferreira, do curso integrado de Metalurgia, elogiaram a iniciativa, salientando o momento conturbado pelo qual inúmeras famílias vêm trafegando. A estudante Júlia Freitas, do curso integrado de Edificações, reafirmou o caráter emergencial da medida: "Por conta da pandemia, muitos perderam seus empregos, mas precisam continuar a sustentar famílias grandes". A aluna defendeu que a distribuição "também é uma forma de a Instituição contribuir para que seus alunos se alimentem bem.”

Nesse sentido, a alimentação escolar possui enorme importância. Segundo o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), o PNAE, criado em 1955, assegura a única, ou a principal refeição do dia para um percentual considerável dos estudantes da rede pública. A pandemia de COVID-19 interrompeu a compra e a distribuição de comida, antes preparada diariamente. Das consequências diretas da paralisação, somam a baixa segurança alimentar e nutricional dos alunos e os impactos negativos na renda dos produtores. O FBSSAN, por meio de um estudo envolvendo um grupo de 4,5 mil produtores de 108 cidades, observou um tombo de 87% no faturamento da agricultura familiar, no intervalo de um ano. A venda de produtos para o PNAE sofreu um forte abalo: dos R$ 27 milhões ganhos em 2019, para, apenas, R$ 3,6 milhões no ano passado.

 

Entendendo a agricultura familiar

A iniciativa acende a necessidade da discussão sobre a agricultura familiar (AF), e da avaliação das questões que a circundam. O professor da Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto, Élido Bonomo, considera urgente a obtenção de alimentos por parte do poder público, via agricultura familiar, durante a pandemia. "A população local e as instituições públicas, como o IFMG, precisam compreender e estimular a aquisição da produção da AF de forma dialogada e planejada com os produtores para que os mesmos possam investir na produção, melhoramento do cultivo, diversificação e produtividade com qualidade."

Bonomo, que já presidiu o Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais (CRN9/MG) e, atualmente, chefia o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) e o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Estado de Minas Gerais (CONSEA/MG), calcula que "2/3 do que chega às mesas dos consumidores vêm da agricultura familiar". O incentivo à comercialização e ao consumo da produção familiar rendem benefícios ao município, já que os recursos ganhos movimentam o comércio local, estimula a geração de empregos e contribui para o desenvolvimento no campo, evitando, dessa forma, o êxodo rural.

A popularização e a tendência do consumo de alimentos orgânicos dialoga com o impacto da agricultura familiar no quadro alimentar brasileiro. Dados levantados por uma pesquisa conduzida pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) dão conta de um aumento de 44,5% no consumo de orgânicos, de março a outubro de 2020. Élido comenta que, apesar das discordâncias quanto à exatidão dos números, "há consenso de que a maior parte do que consumimos in natura ou minimamente processado advém da AF", representando um grande valor ao abastecimento interno e colaborando para a segurança alimentar da população. A pesquisa aponta, ainda, que a busca por alimentos frescos, de boa procedência, tem motivado a preocupação dos consumidores nos mercados. Sendo um de seus pilares, a proximidade da produção agrícola familiar com a ponta da cadeia produtiva, de acordo com o professor, estabelece um vínculo de confiança. "O que se sabe é que a AF tem buscado transitar do modelo tradicional de produção para uma produção de alimentos orgânicos de base agroecológica. Com isso, os produtos chegam com mais qualidade e o consumidor pode, se quiser, conhecer as propriedades", pontua.

Outro diferencial da agricultura familiar é o contraste que representa ao agronegócio, ou agricultura patronal, predominante no Brasil. Esse sistema, imperativo nos investimentos agrícolas, explora vastas dimensões de terra, importando, somente, o cultivo de um só alimento. A prática, afirma Élido, "resulta no esgotamento do solo; na contaminação do subsolo, das águas, das nascentes; na poluição do ar; e na intoxicação de trabalhadores e de comunidades dos arredores". Na contramão, a agricultura familiar "emprega mãos;  luta pela preservação da sociobiodiversidade e valoriza a produção diversificada".

Serviço

A organização informou que, por enquanto, não há previsão para abertura de cadastramento para entrega de novos kits. Segundo Cláudio Vita, o parecer dependerá das condições e dos prazos para a retomada das aulas presenciais.

Por ora, informe-se do dia e do horário para a retirada do kit, clicando aqui