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Estudantes do Campus realizam visita técnica à Escola Família Agrícola Paulo Freire

No dia 10 de setembro, vinte estudantes dos cursos de Licenciatura em Física, Licenciatura em Geografia e Tecnologia em Gestão da Qualidade do IFMG – Campus Ouro Preto participaram de uma visita técnica à sede da Escola Família Agrícola (EFA) Paulo Freire, em Acaiaca (MG). A atividade, organizada pela professora Denise Ziviani, complementou os estudos sobre Paulo Freire desenvolvidos ao longo do semestre nas disciplinas Psicologia da Educação e Currículo, Diversidade, Gênero e Raça.
Durante o encontro, os alunos tiveram a oportunidade de trocar experiências com estudantes do 1º ano do curso técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio por Alternância e com os monitores da EFA. Segundo o diretor da instituição, Gilmar Oliveira, a visita reforça a integração entre as duas escolas. “Essa experiência tem um papel importante porque fortalece as parcerias e a integração institucional entre a Escola Família Agrícola Paulo Freire e o IFMG, enquanto parceiros na formação da juventude e dos educadores. Ela proporciona também uma rica troca de saberes entre os estudantes da EFA e os alunos do Instituto, ampliando horizontes e mostrando a importância de uma educação contextualizada, comprometida com o desenvolvimento do território e aberta a diversas perspectivas e parcerias”, destaca.
O diretor também ressaltou a riqueza do encontro, especialmente no diálogo entre saberes acadêmicos e conhecimentos tradicionais: “Percebemos o quanto todos se envolveram nas trocas a partir do manejo e uso das plantas medicinais, das sementes nativas, da culinária, da música e dos instrumentos culturais”.

EFA Paulo Freire
A instituição funciona no regime de alternância, no qual os jovens passam duas semanas na sede da escola, em aulas teóricas e práticas, e outras duas semanas junto às famílias, aplicando os aprendizados em suas realidades. A instituição oferece, além das disciplinas do ensino médio regular, conteúdos ligados à agroecologia, zootecnia, agroindústria familiar, economia rural e políticas públicas para a agricultura familiar, entre outros.
O trabalho educativo também se amplia por meio de projetos socioculturais, como capoeira, maculelê, violão, percussão, folia de reis, congado e apoio a festas comunitárias. A instituição mantém ainda ações ligadas ao cuidado com a natureza e à preservação dos saberes tradicionais, com produção de mudas de árvores ornamentais e medicinais, hortas — incluindo a chamada horta da ancestralidade, dedicada a plantas nativas e de uso tradicional — e o projeto Ciranda da Semente, voltado à valorização e ao cultivo de sementes nativas.
A escola é aberta à visitação de grupos, instituições associativas, cooperativas e de estudantes que vão ingressar no 1° ano do Ensino Médio. “De 22 a 26 de janeiro de 2026, vamos realizar a nossa Semana de Vivência, aberta a jovens interessados em cursar a EFA. É uma oportunidade de conhecer a equipe, o espaço e a proposta pedagógica da escola, junto com suas famílias”, convida Gilmar Oliveira.


Estudantes contam como foi a experiência
Para Davi Yuri de Almeida, aluno da Licenciatura em Física, a visita à Escola Família Agrícola foi marcante pela troca de saberes. "Deu para observar, aprender e, ao mesmo tempo, ensinar também muitas coisas”. Ele destaca a facilidade com que os estudantes da EFA, mesmo no primeiro ano, explicavam práticas ligadas ao manejo de animais, hortaliças e plantas.
Davi também se impressionou com o ambiente da escola. Ele contou que “é um local isolado, por ser rural, mas ao mesmo tempo muito alegre, porque eles aprendem música, levantam-se com música, e isso causa uma certa diversão”. Para o licenciando, a vivência mostrou como a educação ali promove autonomia, sustentabilidade e uma organização coletiva eficiente. “Eles não dependem necessariamente do externo para sobreviver. O ideal e o agradável é que eles recebam assistência, só que esta assistência é mínima. E mesmo assim, a escola é muito bem organizada e estruturada, não parece faltar recurso, à primeira vista. Foi muito interessante aprender sobre essa metodologia freiriana que eu não conhecia. Isso foi edificante para mim”, completa.

Já Tiago Vinicius Vieira, da Licenciatura em Geografia, destaca a importância de ver na prática o que é discutido em sala de aula. “Foi muito importante essa visita na EFA, porque lá a gente viu o que conversava tanto na disciplina. Eles conseguem unir a teoria com a prática, o que achei sensacional”, afirma. Ele destaca que ficou impressionado com o regime de alternância, no qual os jovens passam 15 dias na escola e outros 15 em casa, o que permite integrar estudo, prática e convivência com as famílias.
Segundo Tiago, essa dinâmica favorece ainda mais o aprendizado: “Eles estudam uma coisa e, no próximo semestre, vão lá e colocam em prática o que aprenderam. Sem contar que, nesses 15 dias em casa, podem compartilhar com as famílias o que viram na escola e gerar novas dúvidas para levar de volta quando retornam. Isso torna a experiência magnífica”. Para ele, a vivência na EFA comprovou que a proposta freiriana não é algo utópico, mas algo que funciona de verdade. “Vou levar esse aprendizado comigo e usar de exemplo na minha prática como educador”, afirma.

Para Eduardo Gomes, estudante de Física, a visita permitiu compreender de forma concreta como a pedagogia da autonomia orienta a formação integral dos jovens da EFA: “Os alunos são incentivados a assumir responsabilidades sobre o próprio processo de aprendizagem, participando da organização do cotidiano escolar, da construção coletiva do conhecimento e até da tomada de decisões que impactam sua formação”. Segundo Eduardo, essa prática rompe com o modelo tradicional, no qual o estudante é apenas receptor de informações, possibilitando o desenvolvimento de sujeitos críticos, conscientes e capazes de intervir em sua realidade.
Ele ressalta que a vivência foi especialmente significativa para sua trajetória acadêmica. “Ao observar o funcionamento da EFA, foi possível perceber que conteúdos abordados no Ensino Médio, inclusive os de Física, bem como os do Curso Técnico, podem e devem ser trabalhados de forma contextualizada, de forma a relacionar os conceitos teóricos com situações práticas do cotidiano e às experiências dos próprios alunos”. Ele afirma que tal perspectiva o desafia a pensar em estratégias que estimulem a curiosidade, a investigação e o protagonismo dos estudantes, inspirando sua futura prática docente.

Já Deusdete Desidério de Jesus, aluno da Licenciatura em Geografia e colaborador terceirizado do serviço de jardinagem do campus, destaca o quanto a experiência foi enriquecedora pela simplicidade e criatividade da escola. Ele conta que ficou impressionado com a rotina da EFA: “Não pode usar celular, não pode beber, não pode fumar, e os próprios alunos lavam a roupa e fazem comida. Na ocasião, inclusive, um professor de matemática foi quem preparou o almoço para o grupo visitante. Ali, todos trabalham”.
Segundo ele, que já trabalhou na roça, o contato com a horta medicinal, os animais e a produção de mudas mostrou que “é possível fazer muita coisa com poucos recursos”. O estudante relatou, ainda, histórias contadas pelo diretor da escola sobre estudantes provenientes de diversos municípios, como o caso de um jovem de Belo Horizonte que se formou na EFA e depois conseguiu emprego na prefeitura da capital. “Achei impressionante ver esse acolhimento na EFA. Muitas vezes as pessoas não encontram oportunidades onde moram. Quem se adapta ali sai disciplinado, com uma rotina organizada e muito aprendizado para a vida”, afirma.

