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Eu faço parte desta história: entrevista com o professor Walter Pavão

por Tatiana Toledo publicado: 26/05/2025 13h20, última modificação: 26/05/2025 13h27

Nesta edição da série "Eu faço parte desta história", compartilhamos a trajetória do professor recém-aposentado Walter Pavão, docente do curso técnico subsequente em Segurança do Trabalho, que dedicou mais de três décadas à instituição.

Ingressando em 5 de março de 1993, Pavão lecionou também nos cursos de Gestão da Qualidade, Conservação e Restauro e Meio Ambiente. Além de sua atuação docente, ele também foi coordenador de curso e da área da Segurança do Trabalho, diretor de Ensino, diretor de Relações Empresariais e Comunitárias e diretor-geral substituto na gestão de Arthur Versiani Machado. Sua dedicação e comprometimento marcaram profundamente a história do campus. Entretanto, o docente é categórico ao afirmar que seu vínculo com o campus e, em especial, com o curso de Segurança, não se encerram agora.

Acompanhe a seguir a entrevista completa e conheça mais sobre as memórias que Pavão construiu ao longo de sua jornada na instituição. Boa leitura!


 

Como foi seu primeiro dia na Etfop? O que mais te marcou quando você entrou pela primeira vez na instituição?

Pavão: Eu fiquei sabendo do concurso pelo jornal, eu lia muito. Então, na realidade, meu primeiro contato com a escola foi um pouco antes da posse. Passei no concurso em dezembro, e vim para fazer o exame médico em fevereiro. Lembro que estava trabalhando em Belo Horizonte e não queria perder o dia de trabalho, mas acabei perdendo. Mas esse foi meu primeiro contato.

Quando assumi, o diretor-geral era o Ronaldo Toffolo. Fui muito bem recebido. Uma coisa que me marcou muito foi a acolhida da professora de português, Nilza Dutra. Ela me conduziu pela escola, mostrando os locais: "aqui é o setor de xerox, aqui é a biblioteca". Isso me marcou demais. Então, sempre que tinha alguém novo, eu procurava retribuir mostrando o caminho.

Tomei posse numa sexta-feira e comecei a dar aula na segunda, sem conhecer quase nada. Mas foi bom.

Tem algum projeto, aula ou momento que você considera o mais marcante da sua trajetória aqui?

Pavão: Dentro do curso de Segurança, uma das coisas que mais gosto de fazer e que os alunos adoram é o treinamento prático de combate a incêndio com extintores. Movimenta a escola inteira. Antes, eu fazia na entrada da garagem. Depois, perto da Educação Física, e posteriormente, atrás do pavilhão de Segurança. Os alunos, quando acaba a aula, querem mais. É muito gratificante. Mesmo aposentado, quero voltar para ajudar nesse treinamento.

Como é ver o impacto do seu trabalho na vida nos alunos ao longo dos anos?

Pavão: No dia que recebi a homenagem na Semana Interna de Estudos de Segurança do Trabalho (SIEST) do ano passado, após 32 anos de escola, falei que o sucesso do professor é quando nossos alunos têm sucesso quando vão para o mercado de trabalho. Para nós, é uma satisfação muito grande receber ex-alunos que fizeram técnico (muitos até já fizeram engenharia) e voltam para dar uma palestra, ou para poder fazer um treinamento. Em especial, temos o professor William, que fez técnico em Segurança com a gente há 30 anos, depois fez Engenharia de Segurança, e retornou como professor substituto.

Então é muito gratificante ver o trabalho nosso sendo reconhecido, não só para nós, professores, mas sim, reconhecido através dos alunos que nós ajudamos a formar. Eu me formei em 1982, 83, uma época que foi chamada de “a década perdida” no que se refere a emprego. Tinha muito desemprego, então fiquei um tempo desempregado, sabe? Quando eu tive essa oportunidade de entrar na escola, para mim, foi muito, muito gratificante. E eu não pensava em ser professor. Eu não estudei para ser professor. Mas desde o primeiro dia - e eu me lembro claramente do primeiro dia em que eu dei aula, foi no pavilhão do Magistério, que hoje é a Gerência da Tecnologia da Informação, com mais de 42 alunos na sala - eu me dediquei muito. Graças a Deus, tenho boas recordações desse momento. Percebi, ali naquele primeiro dia, mesmo com todas as dificuldades, que aquele talvez fosse o meu caminho, e sim, foi. Durante 32 anos eu fui muito feliz dentro da escola, muito feliz mesmo.

Mesmo não tendo planejado, sabia que estava no lugar certo, fazendo o que precisava. E, e por incrível que pareça, eu tenho dentro da família professores que trabalham em escola, na Universidade Federal de Pernambuco, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul… E eu pensava em trabalhar como engenheiro, mas as circunstâncias me levaram ao concurso público. Outra coisa que foi muito importante para mim, eu já fiz o concurso para ingressar como efetivo, e isso me deu uma segurança e uma felicidade muito grande.

O que você acha que mudou mais ao longo dos anos na instituição, e como foi participar dessas transformações?

Pavão: Vejo que com a transformação em instituto federal e a proximidade com a UFOP, nossos cursos superiores não tiveram muitas oportunidades de bacharelado. Mas sabemos também que a essência do nosso campus é o ensino integrado, que é muito forte. Então a transformação é essa, talvez o nosso foco seja maior no ensino médio, técnico integrado mesmo, sabe? O subsequente, talvez, precise de um reforço. Apesar de o curso de Segurança do Trabalho ter uma boa procura, estamos com alguma dificuldade, especialmente no noturno. Mas a escola continua muito forte.

Na última formatura, o discurso do nosso reitor, Rafael Bastos, sobre a importância da instituição e dos professores na formação dos alunos, foi muito emocionante. Muitos alunos se emocionaram durante aquele depoimento, porque sabem que a escola não apenas ensina, mas transforma vidas. Acredito na importância da escola gratuita e de qualidade, apesar dos muitos desafios e da resistência de setores conservadores que são contrários às universidades. Estamos vendo, nos Estados Unidos, o Trump indo contra universidades tradicionais. Então o serviço público federal tem que se segurar, ter força para garantir que a gente não tenha um retrocesso.

Quais desafios você acredita que a instituição enfrenta e ainda vai enfrentar nos próximos anos?

Pavão: Acho que o desafio será valorizar mais o nosso noturno, os cursos superiores e subsequentes. O integrado vai bem, é forte. Creio que a preocupação da escola deverá ser manter o que vai muito bem, o integrado, e ter um cuidado especial com o noturno.

O que mais te motiva, mesmo após a aposentadoria, a continuar fazendo parte da história do IFMG?

Pavão: Eu tenho um carinho muito especial pelo noturno, saio com o coração meio apertado. Por outro lado, sinto a satisfação de ter meu trabalho reconhecido por parte dos alunos. Sempre dizia que tinha feito a minha parte, mas que me dedicaria muito até o último dia em que estivesse na escola, como eu me dediquei desde o primeiro dia. Mas agora, deixo para os mais jovens continuarem a nossa tarefa.

Eu já estou preocupado, olha só… estou preocupado com a compra de extintores para fazer o treinamento de combate a incêndio e com a oferta desta aula… Até conversei com o Diretor de Ensino que não gostaria que essa transição causasse qualquer tipo de rompimento ou de queda de qualidade de ensino, ou falta de professor, que pudesse influenciar e afetar os nossos alunos.

Quais são os valores ou lições que o IFMG te ensinou e que você leva para a vida?

Pavão: Acho que uma das coisas mais importantes (e aí me refiro também ao governo federal) é a prioridade nos mais pobres, no investimento nos institutos federais e nas universidades. Atendemos um público humilde. Se não tivesse um instituto federal, onde esses meninos iam estudar? A educação gratuita e de qualidade é fundamental. Eu penso que é por aí, sabe? A educação gratuita e os investimentos do governo federal são fundamentais. Programas como o Pé-de-Meia, por exemplo, são importantes, especialmente diante do cenário preocupante das licenciaturas. Precisamos incentivar mais. Precisamos que os melhores alunos sejam os professores dos nossos filhos. Mas, infelizmente, pela falta de valorização por parte dos estados, dos municípios — seja em termos de salário, de estrutura — e até mesmo nas escolas particulares, os melhores estudantes acabam não escolhendo o magistério. Esse talvez seja um dos grandes desafios. Ainda assim, os institutos federais e as universidades públicas têm proporcionado condições para que aqueles que realmente desejam seguir na área da educação possam se manter nos cursos e desenvolver suas habilidades profissionais. 

Que conselhos você daria para os novos servidores que estão começando agora?

Pavão: Para os docentes, entendo que é importante ter dedicação exclusiva, mas também vivência prática. Tive oportunidade de prestar serviços e fazer visitas técnicas em empresas como a Vale e a Samarco, o que me trouxe muito conhecimento técnico. Isso ajuda demais dentro da instituição. É importante que os novos professores também tenham essa experiência prática. Incluir a valorização da experiência prática nos processos seletivos e nos nossos concursos ajudaria muito. Eu defendo a especialização, o mestrado, o doutorado, mas acredito que a vivência prática também contribui diretamente para a formação de melhores profissionais para o mercado de trabalho.

Se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho para o Pavão quando ingressou na instituição, qual seria?

Pavão: Não sei se eu mudaria muita coisa, mas acredito que, se tivesse tido a oportunidade de atuar mais tempo na área antes de me tornar professor, isso teria me ajudado bastante. Eu sou sincero, tive pouca experiência no mercado de trabalho antes de entrar na escola. Mas, ao longo do percurso, consegui me adequar. Logo no início, passei por uma vivência na Samitri de que nunca me esqueço — fiquei cerca de um mês subindo e descendo nas instalações de beneficiamento, e aquilo me marcou muito. Foi uma experiência que me ajudou demais.

Gostaria de deixar uma mensagem final?

Pavão: Eu acho que a gente precisa continuar valorizando — e eu já destaquei isso ao longo da entrevista — o ensino público, gratuito e de qualidade. É fundamental incentivar e manter esse modelo, e vejo que o governo federal, atualmente, tem demonstrado essa preocupação. Tenho um apreço muito grande pelo Fernando Haddad, que já foi ministro da Educação e hoje está na Fazenda. Com ele, tivemos ganhos significativos.

A transformação dos Cefets em IFs foi positiva, sem dúvida, mas trouxe também uma centralização. Me lembro que, na época em que éramos Cefet e eu atuava como diretor de Ensino, eu ia duas ou três vezes por ano a Brasília. Hoje, com 18 campi, quem vai a Brasília é o pró-reitor. Isso facilita a gestão para o governo federal, mas, por outro lado, os campi acabam tendo menos contato direto com as decisões e com a dinâmica nacional da educação. Ainda assim, acredito que estamos no caminho certo.

Deixo aqui meu agradecimento a todos técnicos administrativos e docentes do IFMG Ouro Preto por estes longos anos de convivência e trocas que me fizeram ser um profissional realizado e também uma pessoa melhor e feliz.

 


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