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IFMG Campus Ouro Preto promove XVI Semana de Cultura Afrobrasileira e Africana

publicado: 15/12/2022 12h03, última modificação: 15/12/2022 12h03

A XVI Semana de Cultura Afrobrasileira e Africana do IFMG - Campus Ouro Preto ocorreu durante as duas últimas semanas do mês de novembro, período em que é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra. A iniciativa anual do Campus tem como objetivo promover a valorização da cultura afrodescendente e suas manifestações no país. 

O evento também teve como foco a instituição de debates e reflexões acerca do racismo estrutural na sociedade brasileira e seus impactos na população negra. Além disso, houve a abertura de espaço para a divulgação de iniciativas e atividades que visam a identificação e a integração da comunidade negra durante a convenção. O programa foi composto por uma série de atividades, entre apresentações artísticas, palestras, exibição de filmes e rodas de conversas visando trazer à tona a importância de  discussões sobre racismo, discriminação e  igualdade social.

“É fundamental incluir esses debates na agenda de ensino, pesquisa e extensão do campus e o próprio evento foi prova disso” afirma Natiele de Oliveira, uma das organizadoras da Semana, que reforçou como o debate acerca de questões raciais são aspectos fundamentais para mudanças éticas concretas no meio social. Laura Rodrigues, que também integra a comissão organizadora, ressaltou a relevância do evento: “É um evento de suma importância e devemos sempre mantê-lo no nosso calendário, de forma cada vez mais oficial” afirmou a professora, que expressou o objetivo de manter a longevidade da iniciativa.  

Denise Ziviani, também organizadora de um dos programas, ressaltou a necessidade de se debater as relações raciais presentes na programação da Semana também em sala de aula, e durante todo o ano letivo: “Precisamos construir um processo em que essas intervenções aconteçam ao longo do ano no cotidiano de todas as disciplinas”, pontuou a professora, que relembrou a Lei 10689/03, que prevê que a história e cultura afro-brasileira esteja presente na grade curricular de disciplinas no ensino médio e fundamental. A professora também evidenciou o fato de 72% da população da comunidade de Ouro Preto, onde o IFMG está inserido, se autodeclarar negra. “Acredito que sejamos o Campus que tenha a presença mais expressiva de alunos negros, por estarmos inseridos nesse município. É preciso dessa consciência 12 meses por ano”, ressalta.    

 

As atrações 

 

A  negação do racismo e a importância de uma educação antirracista

A atração que inaugurou a semana foi a mesa “A negação do racismo e a importância de uma educação antirracista”, com Luana Tolentino. A doutoranda em Educação é também autora do livro “Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula”. A mesa abordou os discursos de negação da existência do racismo no Brasil e seus impactos sobre o ambiente escolar. “A mesa surgiu de uma demanda dos próprios estudantes, que manifestaram o desejo de debater o tema publicamente”, afirmou Natiele Oliveira, que ressaltou a iniciativa como um fato demonstrativo do interesse de alguns membros do público estudantil do IFMG pela pauta racial.  

Outro ponto destacado pelo debate foi a urgência do estabelecimento de práticas de ensino e aprendizagem de viés antirracista em instituições de ensino. “A mesa foi um dos pontos altos do evento, onde pudemos ouvir e acolher relatos importantes dos nossos estudantes, além de refletirmos sobre a necessidade de uma educação antirracista”, afirma Laura Rodrigues. Desse modo, a palestra reforçou a importância do debate acerca de uma ética educacional que leve em conta uma construção antirracista, valor de extrema relevância para o estabelecimento do antirracismo como um valor social. 



“Maracatu de Baque Virado”

Proporcionando um resgate de práticas afro-brasileiras, a segunda atração foi a oficina “Maracatu de Baque Virado”. O Mestre de Cultura Itamar Bambaia trouxe um pouco da história da cultura do “Maracatu de baque virado” pernambucano, além de ensinar ritmos, músicas e danças típicas da cultura. O “Maracatu” possui raízes em práticas culturais  de herança africana. 

 

Visita à Mina Du Veloso 

A terceira atração foi uma visita guiada à mina du Veloso, uma mina de ouro do século XVIII, localizada em Ouro Preto. O passeio mostra ao longo de todo o trajeto marcas dos trabalhos feitos pelos mineradores escravizados na época. O objetivo é mostrar a história silenciada desses africanos mineradores, ressignificando e preservando as antigas estruturas da mineração aurífera setecentista de Ouro Preto/MG como patrimônio afro-brasileiro, utilizando a história afrocentrada para apresentar esse patrimônio aos visitantes.



Cine Debate - Raça, Educação e Direitos Humanos 

Promovido pelas professoras de Educação do IFMG - Campus Ouro Preto, Denise Ziviani  e Layla Júlia, o evento teve como objetivo discutir o tema Raça, Educação e Direitos Humanos com estudantes, professores dos cursos de graduação e técnicos subsequentes. Os debates ocorreram após a exibição dos filmes “Estrelas além do tempo” e “Retrato em preto e branco”, respectivamente, abordando questões levantadas pelas obras cinematográficas. 

O debate acerca do filme do diretor Joel Zito, "Retrato em preto e branco", foi orientado pelos alunos da licenciatura em Física que cursam a disciplina Educação e Direitos Humanos. A obra de 1980 traz luz a vivências da população negra nesse período que eram cercadas de racismo, discriminação e desumanização, no meio social e também em sala de aula. “O autor produziu essa obra para mostrar o quanto o brasil é um país racista, foi feito em 1908, e hoje, 42 anos depois, o que mudou?”, ressaltou a professora Denise, que afirmou que a obra foi escolhida para provocar a discussão acerca da realidade racista ainda pulsante no país. A obra “Estrelas Além do Tempo” trouxe um debate sobre as vivências de mulheres pretas na sociedade, e como o recorte de gênero ligado à raça traz à tona diferentes obstáculos sociais. “Quando eu trabalho as relações raciais, eu não as entendo como isoladas, elas vêm ligadas intrinsecamente ao gênero'', conta Denise, que explicou que a obra atemporal mostra a vivência dura da mulher negra. 

O evento também contou com a palestra "Educação como prática de Liberdade", ministrada por Ariene de Oliveira Cabral e Silva, representante da rede Educafro Minas. O coletivo possui o objetivo de inserir e garantir a permanência das populações negras, indígenas, migrantes, LGBTQIA+ e das camadas populares nas universidades públicas em Minas Gerais. A atividade trouxe a importância da garantia de acesso à educação de qualidade por minorias, além de abordar a inclusão da educação antirracista no dia a dia em salas de aula para os alunos dos cursos de licenciatura do IFMG - Campus Ouro Preto. A palestra foi organizada em conjunto com Isadora Souza e Hugo Coelho, integrantes do projeto de extensão “Agenda de Enfrentamento da Pandemia COVID-19 no âmbito do IFMG-Campus Ouro Preto”.

 

Saiba mais 

 

Confira registros do evento no site XVI Semana de Cultura Afrobrasileira e Africana do IFMG Campus Ouro Preto 

 

 

 

Texto: Isadora Souza