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Elas Inspiram: Memória e Identidade nas receitas tradicionais de mulheres negras de Ouro Preto

Ao longo do mês de março, você terá a oportunidade de conhecer iniciativas conduzidas ou apoiadas por servidoras e alunas do campus que visam ao empoderamento, ao estabelecimento de redes e ao enfrentamento à desigualdade de gênero.
publicado: 31/03/2022 11h21, última modificação: 06/03/2023 11h31

Elas InspiramA História do Brasil está às voltas com os acontecimentos constituintes da formação cultural e social de Minas Gerais, esta, por sua vez, influenciada diretamente pelo passado colonial e escravocrata de Ouro Preto. Nos idos dos séculos XVII e XVIII, os rastros devoradores da mineração, em diálogo com o espírito insurgente aos imperativos portugueses, se impuseram como marcos memoráveis por entre os morros do centro mineiro.

Passagens, entretanto, pouco sublinhadas nos livros, as memórias da gastronomia implantada por mulheres negras permanecem arraigadas nas teias identitárias da cidade. A fim de grafar a relevância dos caracteres pertencentes às raízes ouro-pretanas e resgatar tradicionais preparos, o projeto “Memória e Identidade nas receitas tradicionais de mulheres negras de Ouro Preto” arrisca-se audaciosamente a coletar fragmentos desta vasta colcha de retalhos.

Os trabalhos organizados pela professora Cristiana Santos Andreoli e pela bolsista Valéria Alves almejam angariar relatos e registros fotográficos de mulheres negras, nascidas até a metade do século passado, cujo papel seja a de dar conta da magnitude dos aspectos gastronômicos do município, permeados pela tradição cultural por aqui vigente. As ações ainda miram na expectativa de colaborar para a mitigação de injustiças de gênero, uma vez que amplificadas as vozes das participantes, suas identidades se escancaram descortinadas para o mundo.

A busca pelas histórias

A situação sanitária que chacoalhou o planeta, também obrigou a equipe de pesquisadoras a procurar por soluções alternativas na escuta das personagens. Assim, a criação de um formulário foi a válvula achada para a viabilização do rastreio das mulheres, de modo a delinear suas vivências, experiências e contribuições para a perpetuação de costumes locais da cozinha.

As dificuldades com as quais o projeto esbarrou neste período, impactaram no garimpo dos perfis femininos. Coordenadora do projeto desde 2019, Cristiana elucida que a técnica de coleta de dados adotada provocou desdobramentos negativos na pesquisa. 

“Como trabalhamos com a metodologia “Bola de Neve” (técnica de amostragem não probabilística, onde os indivíduos selecionados para serem estudados convidam novos participantes da sua rede de amigos e conhecidos), tivemos uma certa dificuldade, pois dependemos de retorno das participantes em indicar possíveis entrevistadas.” A determinação, porém, das mulheres ouvidas em colaborar na fundamentação deste banco de histórias se sobrepôs aos empecilhos incidentes.

Frutos colhidos

Os resultados do levantamento apontam para questões básicas da prática culinária, como a documentação de seus repertórios de receitas, sondagem dos espaços de trabalho e de produção alimentar. Os depoimentos são demonstrações genuínas do brilho emanado pelos hábitos praticados no preparo das refeições. 

Em geral, a maior parte das entrevistadas disseram semear as próprias hortaliças, bem como nutrir e levar adiante lições adquiridas com seus antepassados. Com isto, o simples ato de cozinhar torna-se gesto transcendental, já que concede às origens das tradições e trejeitos culinários, o benefício de ir além dos limites particulares de seus pratos.

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