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Voluntariado: alunos e professor restauram imóvel de valor histórico no bairro Cabeças

por Tatiana Toledo publicado: 26/09/2019 08h59, última modificação: 26/09/2019 18h20

Aliar técnica, prática e trabalho social: com este propósito, alunos e professor do curso superior de Tecnologia em Conservação e Restauro do IFMG – Campus Ouro Preto uniram forças para contribuir com a preservação do patrimônio histórico do município, levando mais segurança e qualidade de vida aos moradores.

Um exemplo recente é a série de intervenções que tem sido realizada em uma residência na Rua Alvarenga, no bairro Cabeças, desde outubro de 2018. A iniciativa é do engenheiro civil e professor do curso de Tecnologia em Conservação e Restauro, Ney Nolasco, que já coleciona diversos trabalhos voluntários desde que ingressou no Instituto, em 1987.

Nolasco explica que há dez anos é desenvolvido, no Campus Ouro Preto, o projeto de extensão Oficina de Restauro Público. Orientada por outros professores ao longo deste período, a iniciativa consiste em elaborar dossiês de restauro de edificações de valor cultural em estado de deterioração localizadas no município de Ouro Preto, sob a responsabilidade de população de menor poder aquisitivo ou pertencente a associações comunitárias e similares. A partir de uma seleção ou atendendo às demandas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, elabora-se o dossiê de restauro, composto de etapas bastante definidas, fundamentando uma proposta de intervenção. Finalmente, a equipe do projeto auxilia os moradores nas etapas de aprovação desta proposta de intervenção junto aos órgãos competentes.

“Muitas pessoas acabam fazendo intervenções sem qualquer orientação e que descaracterizam as edificações. Daí a importância deste projeto de extensão. Contudo, infelizmente, algumas não têm recursos para executar a proposta de intervenção elaborada pelo projeto.”, explica. E é aí que entra o trabalho voluntário. No caso do imóvel no bairro Cabeças, que já havia sido contemplado pelo projeto em 2013, a Defesa Civil chegou a interditá-lo devido ao risco acarretado por seu mau estado de conservação. Graças à atuação voluntária do professor e de alunos do curso de Conservação e Restauro, o imóvel encontra-se, atualmente, em condições de segurança para que a moradora não precisasse mais abandonar o local.

“Algumas paredes chegaram a cair, assim como parte do telhado, além do forro da sala e de outros cômodos da casa. Algumas paredes foram reconstruídas, o telhado recebeu intervenção, o forro da sala foi recuperado e a fachada, que estava degradada, precisava de pintura, além da rede elétrica, que estava perigosa, em situação precária. Como não temos recursos para esta finalidade, fomos fazendo aos poucos, com recursos próprios – meus e de outros professores. Negociamos valores nas lojas de materiais de construção, conseguimos materiais sem uso no próprio IFMG, sobras de outras intervenções que realizamos...”, conta o professor.

A técnica, na prática

Os estudantes, por sua vez, contribuem com a mão-de-obra voluntariamente, sempre orientados pelo professor - o que é uma forma de colocar em prática as técnicas aprendidas em sala de aula, além do valor social da ação.

Yara Aparecida Ferreira recorda que, quando iniciou suas atividades na casa do bairro Cabeças, ainda estava aprendendo a teoria de técnicas como pau-a-pique e adobe, necessárias para a intervenção que realizaram. Mas com a devida orientação e com a prática realizada no local, a segurança inicial aos poucos foi dando lugar ao prazer de poder contribuir. “Ajudar uma pessoa que tem amor por sua casa é muito bom. Aprendemos muito. A parte social é muito importante. A moradora fica feliz e nós também, por poder ajudá-la. Foi uma das melhores coisas que fizemos no curso até hoje. Agradecemos o Ney pela oportunidade e confiança que depositou em nós”, destaca.

Para Alexandre Louzada, que já realiza outros trabalhos voluntários, esta também foi a primeira experiência com restauração. “Gostei tanto, que voltei ao local muitas vezes. Isso sem contar que tivemos a oportunidade de trabalhar com certos métodos e práticas, como pau-a-pique, que hoje em dia não teríamos a chance de aplicar em qualquer lugar”.

Segundo Mayra da Conceição Ramos, a sensação de dever cumprido supera qualquer obstáculo. “A moradora ganha muito com nosso serviço voluntário, mas nós ganhamos muito mais. É como se fosse um estágio. Eu trabalho na parte da tarde, então às vezes saio de casa às 7 horas, vou para a intervenção, vou para o trabalho, depois para as aulas no IFMG e chego em casa tarde. É cansativo, mas a gratidão dela recompensa bastante. Cheguei a um ponto em que em qualquer tempo livre que tenho, quero ir para lá”.

Josiele Rocha ressalta o fato de a experiência estar servindo, inclusive, para a quebra de preconceitos. “Uma questão que me emocionou bastante foi um momento em que só as meninas estavam trabalhando na pintura da fachada e as pessoas que passavam ficavam muito impressionadas com isso. Estamos quebrando tabus! Outro ponto é que quando trabalhamos com pessoas que amam o que fazem, como o professor Ney, acabamos nos apaixonando pela profissão. O jeito como ele entende a construção e nos passa informação nos deixa mais maravilhados e confiantes de saber que estamos no caminho certo”.

Na mídia

O trabalho voluntário realizado por alunos e professor também foi tema de reportagem veiculada pela TV Top Cultura neste mês de setembro, a partir de uma sugestão de pauta encaminhada pela Comunicação Social. Confira: