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Como chegamos do Ensino Remoto?

Segundo o IBGE, “só no primeiro ano da pandemia do coronavírus, mais de 172 mil alunos, entre seis e dezessete anos, abandonaram ou deixaram de frequentar a escola no Brasil”
publicado: 08/05/2023 08h15, última modificação: 08/05/2023 11h06
“Devido a estar matriculado em uma escola particular, tive mais facilidade e mais oportunidades que a maioria dos outros alunos”, escreve o aluno Luiz Felipe, do IFMG - Ouro Preto.

Esta reportagem foi produzida por alunas e alunos do curso técnico integrado em Automação Industrial e integra série produzida em atendimento à disciplina de Língua Portuguesa, sob orientação da professora Ana Elisa Novais.


 

“Devido a estar matriculado em uma escola particular, tive mais facilidade e mais oportunidades que a maioria dos outros alunos”, escreve o aluno Luiz Felipe, do IFMG - Ouro Preto.

Ao contrário de Luiz, que durante o ensino remoto contou com plataformas digitais para realização das aulas e acesso aos professores através de aulas em vídeo e ao vivo, alunos que cursaram o Ensino Fundamental em escolas públicas (municipais e estaduais), enfrentaram precariedades diversas, como falhas ou ausência de comunicação, falta de material e equipamentos, pouco ou nenhum contato com professores e problemas com conexão a internet.

O ensino remoto foi uma estratégia adotada no início da pandemia da Covid-19, por instituições de ensino em todo o mundo. A maior dificuldade enfrentada, principalmente nas escolas públicas, foi a vulnerabilidade social e a precariedade nos recursos educacionais digitais.

Como todos sabemos, ocorreram diversos impactos nos processos de aprendizagem. Grande parte desses impactos nos faz pensar na seguinte pergunta: como chegamos do ensino remoto?

De acordo com um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), feito em 2020, que monitorou o comportamento dos estudantes latinos com o fechamento das escolas e a adoção do sistema de ensino a distância, “na realidade brasileira, o número de crianças e adolescentes fora da sala de aula subiu em 12% nesse período”.

A pesquisa do BID, nomeada como “Os custos educativos da crise sanitária da América Latina e mo Caribe”, fiscalizou as condições acadêmicas e econômicas disponibilizadas por 18 países durante o ensino remoto na pandemia, em suas escolas. De acordo com os dados apurados, a educação brasileira foi a segunda mais afetada pelo Covid-19 na América Latina. Sendo assim, o país acumulou 1,5 milhões de jovens longe dos estudos.

Outro estudo, feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), indica que “Minas Gerais está entre os três melhores estados no Índice de Educação a Distância. O estado alcançou nota 5,83; bem acima da média nacional, que ficou em 2,38.” Apesar desses números em destaque em Minas Gerais, o legado da Educação à Distância não foi completamente aproveitado nos modelos de ensino remoto elaborados nas escolas.

E no IFMG campus Ouro Preto?

Com os alunos do IFMG-OP, realizamos uma pesquisa, através de questionários. Esse questionário foi realizado pelos alunos da Turma 1 do primeiro ano de Automação Industrial, e disponibilizado nos e-mails dos estudantes pela Diretoria de Ensino. 31 alunos responderam ao questionário, cujo intuito era saber como os alunos do IFMG - OP chegaram do ensino remoto.

A grande maioria dos alunos (90,3%) disse ter tido condições para acessar os recursos ofertados por sua escola. Mas grande parte deles (58,1%) afirmou ter estudado por meio de PETs (Plano de Estudo Tutorado), as apostilas impressas elaboradas por professores da rede. Apenas 26,7% tiveram acesso a videoaulas. Desses, 43,3% responderam que essas videoaulas aconteceram de forma constante e regular.

O que dizem os profissionais da educação

Além do questionário, fizemos uma entrevista com a SRE (Superintendência Regional de Ensino) de Ouro Preto, onde buscamos dados e informações sobre o ensino a distância na região.

Lucimar Zanetti, diretora da SER local, enfatizou muito a organização do material didático (PET - Plano de Ensino Tutorado), elaborado por professores e pedagogos da rede. “Temos muito orgulho de dizer que o material foi construído por profissionais que estão atuando dentro das nossas escolas estaduais, no estado de Minas, como um todo”.

Mas, ao mesmo tempo, Lucimar admite as dificuldades e os desafios, inclusive emocionais, pelos quais passaram alunos e profissionais da educação. “Todos passaram por isso.” Para ela, no período em que o estudante fica fora do ambiente e do convívio escolar, não se perde apenas conteúdo, se perde socialmente e culturalmente, pois os vínculos ficam difíceis de serem mantidos.

“Imagine esses estudantes que estavam no primeiro ano, e de repente acordaram fazendo o ENEM. Muitos estudantes desistiram. Meu primeiro filho fez duas vezes, ele fez durante a pandemia, na sala dele tinham 5 pessoas, ele e mais 4, numa sala que geralmente teriam 20.” A diretora ressalta que esse acontecimento trouxe um atraso para os estudantes, especialmente aqueles que estavam “na porta do gol para bater o pênalti”, disse ela.

A pergunta que fica é, quando será possível suprir esse atraso?  2022?, 2023? Especialistas que estudam essa perda afirmam que depois de aproximadamente 4 anos é que vai haver um possível equilíbrio nas assimetrias causadas no Ensino Remoto.

A educadora falou também em relação às diferenças do ensino remoto entre as escolas públicas e particulares, onde diz ter sido mais fácil a organização e adaptação frente a essa nova realidade por parte da rede privada. Porém, no que diz respeito às precariedades, para ela, sempre existiram, a pandemia apenas as deixou mais explícitas.

O Ensino Remoto foi uma saída encontrada para que pudéssemos nos manter em aprendizado, mas suas limitações foram enormes. Passamos por diversas camadas de vulnerabilidades, desigualdades e desafios durante o tempo em que não foi possível  estar fisicamente na escola. Chegamos ao Ensino Médio no IFMG graças também a muitos esforços individuais, o que não deveria ser uma regra, já que as condições deveriam ser iguais para todos os estudantes, tanto de escolas públicas ou particulares. Por outro lado, percebemos, ao longo do ano letivo de 2023, que as defasagens e assimetrias vão sendo diminuídas à medida que avançamos, isso porque, como vimos, o ensino remoto trouxe dificuldades, mas não diminuiu nossa capacidade de aprender.

Alunas e alunos da turma D1AUT1/2022

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