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LGBTFobia: a influência na saúde mental dos jovens

O impacto do preconceito na saúde mental da comunidade LGBTQIA+ no campus Ouro Preto
publicado: 19/05/2023 09h00, última modificação: 19/05/2023 11h19

Esta reportagem foi produzida por alunas e alunos do curso técnico integrado em Automação Industrial e integra série produzida em atendimento à disciplina de Língua Portuguesa, sob orientação da professora Ana Elisa Novais.


  

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A luta LGBTQIA+ passou por vários momentos ao longo da história. A rejeição à comunidade tornou-se uma questão abrangente que afeta toda a sociedade, com origem, principalmente, nas instituições religiosas, que, historicamente, com base em suas crenças,  repudiam e ameaçam a liberdade dessas pessoas. 

Mesmo com a criminalização da homofobia e da conquista de direitos que garantem a integridade física e moral dos seres humanos, em pleno século 21, ainda existem situações que violam esses direitos fundamentais. A discriminação contra grupos minoritários, principalmente contra os LGBTQIA+, vem alcançando uma dimensão maior, ocasionando práticas de violências verbais e físicas, que colocam a vida das pessoas da comunidade em risco. 

A efetiva criminalização do preconceito se mostra de grande importância na atualidade, especialmente para garantir o direito a simples atos de demonstração de afeto, os quais não são mal vistos entre pessoas heteronormativas.

O preconceito nasce principalmente das ideias rígidas impostas pela sociedade sobre quem devemos ser e amar, causando aversão ou ódio às pessoas da comunidade, já que não estariam enquadradas no padrão social. 

Com o intuito de fortalecer a luta contra a discriminação e LGBTfobia, no dia 17 de maio de 1990 foi instituído o Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, que celebra a remoção da homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde.

Questões como identidade de gênero e orientação sexual sempre foram temas muito difíceis de se debater em ambientes educacionais e familiares. Os profissionais da educação não estão preparados para lidar com esse tema, pois apesar do espectro da sexualidade ser diverso, a heterossexualidade é ainda mais bem aceita socialmente. Apesar dessas dificuldades, temos possibilidade hoje de viver novas realidades, mais inclusivas.

A realidade do IFMG Ouro Preto

Nós, da turma 3 do primeiro ano de Automação Industrial, buscamos, através de uma entrevista, um grupo focal e um questionário on-line, formas para entender o impacto dessas questões no IFMG Ouro Preto.

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Através do questionário, respondido por 30 alunos, cerca 60% declarou que se considera LGBTQIA+, mesmo manifestando, através das respostas, dúvidas sobre a definição de sua sexualidade. Entre os entrevistados, somente 30% concorda totalmente que a comunidade LGBTQIA+ é acolhida pelo campus.

As gerações passadas, como relatado por um dos entrevistados, tratam o assunto de uma maneira rígida, com uma visão de que essa comunidade não deve ser aceita em ambientes educacionais. Por outro lado, temos uma geração que tenta cada vez mais acolher os grupos LGBTQIA+. 

Segundo, Luís, um dos entrevistados, apesar da pandemia ter concedido oportunidade às pessoas de se conhecerem e saberem quem são, quando se confronta com o presencial, tudo é diferente: “na Internet temos um apoio que não temos na realidade, até mesmo na família”. Esse aluno nos disse também que não tem nenhum apoio dentro de casa, e que sofreu preconceito por pai, mãe e irmão. Teve que buscar apoio psicológico. A realidade de Luís foi reforçada no questionário, com 17% de alunos que declararam não ter nenhum apoio da família.

Quando questionados, todos os entrevistados mencionaram a dificuldade em mostrar quem são de verdade. A grande parte dos integrantes da comunidade não tem apoio da família e buscam solidariedade em outros lugares e pessoas, como as escolas, psicólogos, amigos e até mesmo professores.

Frases como “em dez anos muda muita coisa”, “é só uma fase”, “aceito você, mas não debaixo do meu teto”, são ditas regularmente  às pessoas que tentaram se abrir para a família, e acabam afetando o psicológico delas, ao ponto da situação se agravar, tornando-se uma depressão ou ansiedade, por exemplo. A maioria dos nossos entrevistados (70%) declarou que consegue se expressar com amigos, mas não com a família. Metade não consegue se expressar de forma alguma no âmbito familiar.

Pessoas que já passaram por isso relatam que sentem medo de se declarar ao ponto de serem repreendidas - mais da metade dos alunos que responderam ao questionário já foram alvo ou presenciaram atos de violência. O que as fazem pensar que estão sozinhas e acabam criando a sua própria bolha. Para esta reportagem, por exemplo, quase todos os participantes solicitaram que não fossem identificados.

A volta às aulas presenciais pode servir como ambiente acolhedor, mas nem sempre esta é a realidade. Ana Lívia conta que já presenciou a fala pejorativa de uma pessoa que viu um casal de garotos apenas de mãos dadas.

Por outro lado, o professor substituto de Artes Bruno Pontes declarou que recebeu boas respostas e boa aceitação, até mesmo quando citou seu relacionamento privado: “eu não vejo as pessoas fazendo cara feia ou se sentindo ofendidas por quem eu sou”.

No IFMG Ouro Preto, existem projetos recentes que, apesar de iniciais, fazem grande diferença no acolhimento dos alunos. São exemplos de projetos citados pelos alunos o PRIDE - coletivo discente de defesa do orgulho LGBTQIA+; e o BASTA! - núcleo de enfrentamento à violência de gênero.  Segundo Luís, “os projetos são muito válidos, na minha época não havia”. Outras iniciativas também foram citadas, como cartazes afixados pelo campus no dia do orgulho LGBTQIA+.

Apesar dessas iniciativas, o impacto do preconceito na saúde mental dos alunos do IFMG Ouro Preto é algo que deveria ser mais discutido no campus, porque além de afetar o psicológico, atrapalha nos estudos.

De acordo com a professora e psicanalista Venúncia Coelho, a falta de apoio e as pressões psicológicas, em geral, podem afetar a saúde mental e o desempenho dos alunos: “um aluno que não tem um equilíbrio psíquico e uma condição de bem-estar na escola vai mal nas provas, não consegue interagir de forma saudável com os colegas.” A professora acrescenta que “deveria ter algo preventivo ao invés da escola só socorrer e acolher aqueles alunos que chegam com queixas” como práticas, dinâmicas e eventos que favoreçam o fortalecimento do sujeito, para conseguir identificar os seus sentimentos.

É visível que o preconceito gera um grande impacto, não só numa comunidade, como também em um único indivíduo, principalmente se ainda está em fase de descobrimento.

Além da união e luta dos membros da comunidade LGBTQIA+, é de extrema importância  abertura para ouvir o que eles têm a propor. Acreditamos que a melhor forma de acolhimento seria através do conhecimento, promovendo um debate franco sobre a necessidade de se respeitarem as diferentes orientações sexuais; reprimir ou impedir os comentários preconceituosos entre os alunos; capacitar os profissionais da educação em questões como a inclusão do nome social; entre outras medidas que já poderiam ter sido tomadas. 

Agradecemos a todos aqueles que nos auxiliaram na construção desta reportagem. Declaramos ainda que os nomes citados, em sua maioria, foram alterados de forma a não expor os entrevistados

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