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Eu faço parte desta história: entrevista com a professora Ana Paula Carvalho Barbosa
Dando continuidade à série "Eu faço parte desta história", na qual trazemos relatos de servidores e servidoras que compartilham suas trajetórias e vivências no campus, conversamos com a professora Ana Paula Carvalho Barbosa. A docente da área de Educação Física tem uma longa relação com a instituição, desde seus tempos de estudante até os dias atuais.
Ana Paula iniciou sua jornada na ETFOP em 1982, como aluna, cursando Magistério em Educação Física e Técnico em Desporto. Retornou à instituição entre 2005 e 2006 como professora substituta no então CEFET Ouro Preto e, em 2010, assumiu o cargo de professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, permanecendo desde então na Coordenadoria de Educação Física e Desporto (Codafid). Além da docência, atuou em diversas frentes, como coordenadora de área e representante do Programa Institucional de Esporte e Lazer (PIEL), tendo contribuído para avanços significativos na educação física do instituto. Sua trajetória também inclui participação no Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNEE) e no Conselho Municipal de Esporte.
Confira abaixo a entrevista completa e boa leitura!
Eu faço parte desta história: Ana Paula Carvalho Barbosa
Como foi seu primeiro dia na Etfop? O que mais te marcou quando você entrou pela primeira vez na instituição?
Ana Paula: Eu sou ex-aluna, e a minha história começa lá em 82, quando ingressei na Escola Técnica Federal de Ouro Preto no curso de Magistério em Educação Física e Técnico em Desporto. Foi um curso bem diferenciado na época, em que uma escola extremamente masculina e tecnicista abre um curso de Educação Física, no qual a grande maioria dos estudantes era o público feminino. Então a escola, de uma certa forma, foi invadida pelas mulheres. Isso trouxe um impacto muito grande para a Escola Técnica dos anos 80.
Diante disso, o que talvez tenha mais me marcado foi o impacto, principalmente, estrutural da escola. Porque uma pessoa que sai de uma escola pública e vai para outra escola pública, mas com a estrutura da escola técnica, se surpreende, não é? Enche os olhos. E quando cheguei, o meu grande desejo, que de uma certa forma se transformou no meu projeto de vida, era justamente o de trabalhar ali. Dar aulas ali.
Tem algum projeto, aula ou período que você considera o mais marcante da sua trajetória aqui?
Ana Paula: Com certeza os três anos em que fui aluna da Escola Técnica, de 82 a 84, foram inesquecíveis. Em 84 eu me formei e retornei, depois, para o então já Cefet. Outra realidade, outras vivências, outras pessoas, outros personagens, enfim, outras histórias. Hoje, poder dar este depoimento, relatando minha trajetória, é importante dentro da minha história de vida também. Porque fui ex-aluna, fui professora substituta do Cefet e hoje estou como professora efetiva do IFMG. Há toda uma trajetória de vida dentro da instituição. E, dentro dessa trajetória, com certeza, muitas coisas merecem ser lembradas, comentadas. Outras, acho que deveriam ser esquecidas, mas fazem parte da história do crescimento.
Vários projetos me marcaram. Acho que a história da educação física, por si só, no instituto, é muito rica. Se a gente lembrar desde a época do seu Valadão, Luiz Pires, Sr. Chico Barros, professor Zico, Davi, Aracely… não dá nem para falar, com medo de não citar alguém muito importante na história. Todos são importantes. Mas a Educação Física produz muita coisa bacana. Historicamente falando, não posso deixar de citar o Festival de Ginástica dos anos 80, o FEGIN, que norteou a construção da ginástica geral do Brasil, com o professor Carlos Resende.
Como é ver o impacto do seu trabalho nos alunos ao longo dos anos?
Ana Paula: Os festivais, as Pernilongopíadas, os jogos internos, os JIFETs, os projetos, os programas de práticas corporais, o Festival Ritmo Movimento, o FESTJEL enfim, todos esses projetos alavancam nossa história, não só a minha, mas da área como um todo. Também as grandes viagens para participar de jogos, dos JIFET, dos JIFs, dos Encontros Esportivos, as tantas e tantas viagens que oportunizamos aos nossos estudantes. Não somente o jogo enquanto competição, mas tudo que advém do esporte. A possibilidade do estudante conviver com outras culturas, de vivenciar outras possibilidades. Quando levamos um estudante e ele vê o mar pela primeira vez… não tem preço. Quando esse aluno reconhece que ficou alojado em frente ao Maracanã e teve a oportunidade de visitar o estádio… isso ultrapassa o esporte e dá uma satisfação muito grande.
Nós vemos o impacto de tudo que é feito na aula, no cotidiano. Toda vez que um estudante consegue avançar nessas questões de respeitar o outro, respeitar outras culturas, de perceber o outro não como inimigo, por meio do esporte, da competição, das práticas, de todas essas possibilidades que a educação física proporciona, tudo isso nos leva a acreditar que estamos fazendo a coisa certa.
O que você acha que mudou mais ao longo dos anos na instituição, e como foi participar dessas transformações?
Ana Paula: Pensar a Escola Técnica desde os idos de 82… é uma trajetória muito grande. Há mudanças desde concepções ideológicas, estruturais… é muita mudança. Se pensarmos que em 82 não existia, por exemplo, celular! Mal, mal, havia telefone fixo. Então, a própria geração já era muito diferente. Eram outros valores, outros formatos de vida. Não existia transporte. Hoje é normal você subir, no caso de Ouro Preto, da Barra para o IF de ônibus. Tem táxi lotação, tem ônibus, tem tudo. No nosso tempo, não existia. E também, no meu tempo, não existia refeitório. Tínhamos que descer, subir, descer, subir. Todo dia. Nós não tínhamos muito tempo para nos apropriarmos do espaço do jeito que deveria ser. Hoje, de uma certa forma, o refeitório ajuda muito, porque o estudante não precisa levar marmita. Claro, ele tem a opção de levar, caso queira, mas é diferente de ser uma obrigação.
As mudanças são necessárias, embora algumas causem tensão. O importante é estarmos sempre abertos e não partirmos do princípio de que ela não vai ser boa, naquele clima de negação, e nem a receber com euforia. É, com tranquilidade, receber todas as mudanças, tendo a certeza de que temos que fazer nossa parte. É importante acompanhar essas mudanças. O tempo de 82, de Escola Técnica, foi fantástico, maravilhoso, mas eu era estudante e a minha percepção era outra. O meu lugar dentro da instituição era outro. Assim como o tempo de professora substituta, que passou muito rápido, foi tudo muito corrido. E quando eu retorno em 2010, eu abraço essa grande possibilidade.
Quais desafios você acredita que a instituição enfrenta e ainda vai enfrentar nos próximos anos?
Ana Paula: Eu acho que a instituição tende a ter mais cada vez mais desafios pela frente. A grande questão é que é muito difícil investir em educação. Se a gente analisar friamente, um povo educado vai saber escolher, cobrar do governo tudo aquilo que de uma certa forma ele tem por direito. Então, muitas vezes, não é interessante ter um povo educado, não é? Essa é a grande questão. Por isso que cada vez mais a educação passa a ser sucateada. É um grande desafio driblar isso tudo. Ouro Preto sempre foi referência, desde a época da Escola Técnica. Quando a pessoa estava no terceiro ano, as empresas vinham para poder já assinar contrato rapidinho, devido à competência da escola. É muito importante reforçar isso, porque a instituição tem uma trajetória muito rica de competência e excelência. E isso é importante manter.
O que mais te motiva a continuar fazendo parte desta história no IFMG?
Ana Paula: É saber que eu ainda posso contribuir com a transformação de cada estudante. O dia em que eu sentir que eu não estou contribuindo com a formação e a transformação desse indivíduo, acho que eu não poderei mais fazer parte desse processo. Mas, com certeza, o que realmente me motiva é isso, e eu sei que eu posso.
Quais são os valores ou lições que o IFMG te ensinou e que você leva para a vida?
Ana Paula: O IFMG me ensinou muita coisa, sabe? Mas acho que tem coisas que a gente leva para a vida. Tem amizades, pessoas… e qualquer coisa que eu fale, não tem como não mencionar, por exemplo, o professor Porfírio, carinhosamente conhecido como Popô, que foi uma pessoa muito especial na minha trajetória. É indiscutível, não tem como eu pensar em Codafid sem pensar em Popô, porque ele acompanhou de uma forma muito especial a minha história de vida. Eu fui estagiária no Cefet e eu quis fazer estágio com Porfírio. Até então, eu já o conhecia, mas não profissionalmente. Eu quis fazer estágio com ele porque me chamava a atenção o fato de um professor, sem o braço direito, dar aula. Eu quis entender e ver como era. E se eu já gostava da educação física, aí eu me encantei de vez, porque eu entendi coisas que meu coração não me permitia ver muitas vezes. Eu devo a ele esse processo de realmente me permitir ver a educação física com outros olhares.
Que conselhos você daria para os novos servidores que estão começando agora?
Ana Paula: Eu acho que, principalmente quando começamos qualquer coisa, temos que nos livrar de todos os nossos preconceitos. Temos que entrar com o coração aberto para receber tudo o que aquela nova possibilidade tem a nos oferecer. E com o tempo ir filtrando aquilo que vale a pena ou não e fazer o nosso melhor.
Se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho para a Ana Paula quando ingressou na instituição, qual seria?
Ana Paula: Nossa, agora talvez seja a situação mais difícil. Dar um conselho para mim mesma. Talvez o grande conselho que eu teria me dado quando entrei era ser um pouco menos afoita. Eu deveria ter ido mais devagar. Talvez tivesse mais paciência com o tempo das pessoas.
Gostaria de deixar uma mensagem final?
Ana Paula: Agradeço a oportunidade de compartilhar esses momentos. Com certeza são muitas histórias, muitos “causos” que aconteceram durante essa trajetória. É muito importante a escola valorizar esses momentos e buscar, nessas pessoas que fizeram parte dessa história, esse reconhecimento. Fico muito feliz por isso e agradeço essa oportunidade, acima de tudo.